O frescor e a acidez correta do Vinho Verde é a grande pedida para os dias mais quentes do ano.
É fato que tudo na vida muda, o mesmo se passou com o tradicional Vinho Verde, orgulho liquido da Região do Minho no norte de Portugal. Tradicionalmente nós brasileiros sempre consumimos muito esse tipo de vinho, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, aonde 70% de todo o Vinho Verde que vinha para o Brasil era por lá consumido. Nos anos 70 do século passado, mais da metade desses vinhos era o tipo tinto, aquele vinho que mancha o copo e que tem uma classificação inédita maior do que tinto, esse vinho é conhecido como “retinto”. Sua gastronomia pede que tanto o Verde branco como o tinto deva ser consumido gelado, o que para nós é uma dádiva com o calor que temos nestas terras tropicais, esse passa a ser o vinho ideal. Acrescido a isso tudo tem a acidez, fator que não torna o vinho enjoativo e nos abre o apetite para sempre desejar degustar mais e mais. No passado a concentração alcóolica era de 9 a 11 graus, hoje alguns Verdes atingem até 13,5°.
Os vinhos que bebíamos no passado eram blends das diversas castas oriundas da Região, todas misturadas davam origem a um vinho padrão. Hoje com os avanços da agricultura e da enologia o volume de marcas que são monocastas ou blend somente das castas mais qualitativas estão fazendo toda a diferença.
Foi no final dos anos 60 do século passado que a região conheceu o clássico e mítico Palácio da Brejoeira, oriundo da cepa Alvarinho cultivada na Região de Monção, fronteira norte com a Espanha. Tanto o Palácio quanto a sua lendária proprietária Dona Hermínia fizeram história, acordaram os demais produtores da região e mostraram que se podia fazer um bom vinho monocasta de alta qualidade. Uma nova geração de jovens enólogos foi à luta usando e abusando das castas Loureiro, Trajadura no caso das brancas e a Vinhão no caso das tintas. Sempre houve muito mais castas do que somente estas na região, mas como tudo era misturado ficava difícil saber quem tinha mais qualidade sobre as outras. Alguns enólogos como Anselmo Mendes tornaram-se doutores em Alvarinho e outras castas.
Assim rompemos para o século XXI com uma nobre coleção de Vinhos Verdes de Quintas, com produções pequenas e limitadas e com uma novidade, caia por terra a lenda que Vinho Verde deve ser degustado muito jovem, de preferencia até 1 ano de sua safra. Hoje existem Vinhos Verdes com mais de cinco anos que encantam pelos seus aromas cítricos e paladar requintado sem perder a frescura.
Já se pode encontrar no mercado muitas marcas distintas, de grandes, médios e pequenos produtores. Os importadores brasileiros estão olhando com mais atenção para esse tipo de vinho e as grandes redes de Supermercados já fazem festivais que vão do inicio de janeiro até a Páscoa, com muitas ofertas de rótulos a preços convidativos e seguem depois oferecendo esses vinhos o ano todo. Ao contrário do que acontecia no passado onde o pico de vendas ocorria só na Páscoa.
Com o surgimento desses novos vinhos, a gastronomia recomendada alastrou-se, recentemente provei pratos de carne vermelha com vinhos Verdes brancos com mais idade e tudo se portou muito bem.
Aos poucos o antigo sonho dos portugueses que sempre insistiram que o Brasil era o local ideal para o consumo desse tipo de vinho, vai-se tornando realidade. Hoje podemos provar Vinhos Verdes de centenas de marcas, de diversas castas com diversas safras e assim os acompanhamentos de pratos, não só de bacalhau ganhou uma nova força. E viva o Vinho Verde!!!!
Carlos Cabral