Ao abrir o evento para comemorar o Dia de Portugal, na Sala São Paulo com o espectáculo de Miguel Araújo e Marcelo Jeneci, o Cônsul Geral, Paulo Lourenço, proferiu algumas palavras.
“Muito boa noite.
Antes de mais, os meus sinceros parabéns ao Coro do Instituto Bacharelli pela bela interpretação dos hinos nacionais.
Prometo ser breve até para que não se cumpra comigo o aviso do grande cronista brasileiro Millô Fernandes, para quem, As pessoas que falam muito acabam sempre contando coisas que ainda não aconteceram.
Gostaria de saudar, em meu nome e da minha mulher Mafalda, todas e todos os que aqui hoje resolveram partilhar conosco a nossa Data nacional, celebrada oficialmente no dia 10 de junho em todos os cantos do mundo, porque em todos os cantos do mundo há portugueses e luso-descendentes.
Saúdo a comunidade luso-brasileira de São Paulo e de Mato Grosso do Sul, em especial os dirigentes e representantes das associações, casas e agremiações portuguesas de S. Paulo aqui presentes, nas pessoas do Presidente do CCLB, Dr. Manuel Magno, e do Presidente da Câmara Portuguesa, Engº Miguel Setas.
Saúdo de igual todas as autoridades federais, estaduais e municipais, respetivamente nas pessoas d0 Secretário de Governo do Estado, Dr Saulo de Castro e da Chefe do Escritório do Itamaraty, Embaixadora Deborah Barenboim-Salej.
Agradeço a presença dos meus parceiros de caminhada, os colegas do Corpo Consular, bem como dos Embaixadores que gentilmente acederam partilhar conosco esta noite.
Por fim, cumprimento os funcionários e colaboradores do Consulado Geral de Portugal, na pessoa do meu cônsul adjunto Hugo Gravanita – a quem agradeço a valiosíssima ajuda que me tem prestado – bem como a produção do Experimenta Portugal e os colegas da Agência de Comércio Externo e Investimento e do Turismo de Portugal – que conosco formam uma equipa ativa e multidisciplinar.
É com uma imensa alegria que dou a boas-vindas à celebração oficial do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em São Paulo, juntando portugueses, brasileiros e luso-brasileiros, em torno não apenas de dois músicos de uma nova geração, que temos o prazer de trazer até vós esta noite, mas também “ao redor” de uma relação que, como disse publicamente tantas vezes nestes últimos anos, apenas recentemente se começou a transformar numa verdadeira descoberta mútua.
Não vos vou cansar com o fetichismo dos números, mas não posso deixar de lembrar que nunca como agora tantos paulistas e brasileiros visitaram, investiram, decidiram residir, empreender ou colocar os seus filhos a estudar em Portugal. São já hoje 34 as universidades portuguesas que aceitam a nota de acesso ao ensino superior do ENEM. – só para dar um exemplo.
Nunca tantos brasileiros procuraram ou obtiveram a cidadania portuguesa, criando, nos últimos 10 anos, uma genuína revolução no próprio conceito da luso-brasilidade.
Não há provavelmente registo, como nos últimos dois anos, de tantas visitas de Estado e deslocações oficiais de membros do Governo a São Paulo (apenas este ano, foram já 6), demonstrando uma vez mais que, quaisquer que sejam as circunstâncias, Portugal continua a acreditar firmemente no Brasil e nos brasileiros.
Spoiler-alert!
Portugal não está na moda. Portugal está onde sempre esteve, no mapa, mas também nos corações deste generoso país de acolhimento. O que fez e faz a diferença é que este casamento de 500 anos parece ter dado finalmente em namoro.
E, ao contrário do que talvez suceda com outros países igualmente cativados por um Portugal que hoje conhecem melhor, surpreendendo-se com uma cultura europeia e aberta ao mundo, tão antenada na tradição quanto na modernidade – Portugal e Brasil estão hoje reunidos de forma mais plena, mais diversificada e certamente mais madura, na cumplicidade que a história e a língua portuguesa ajudaram a moldar.
Vivemos hoje uma verdadeira ponte aérea, composta por 82 voos por semana da TAP (sem falar da Azul), companhia que no ano passado transportou mais de 1 milhão de passageiros – facto novo que é ao mesmo tempo causa e consequência de uma malha densa e impressionante de laços pessoais, familiares, artísticos, políticos, criativos e empresariais que estão a renovar e a reinventar a espessura do nosso relacionamento.
Áreas como ciência e tecnologia, empreendedorismo e educação, só para dar um exemplo, cresceram significativamente nos contatos entre agentes públicos e privados entre S.Paulo e cidades portuguesas.
A este propósito, não me sentiria confortável se aqui não aludisse à concretização, este ano, de um velho sonho da comunidade portuguesa: a futura criação da Escola Portuguesa de S.Paulo, a primeira do género no Brasil e a sétima no mundo, tornada possível graças à cessão pelo Governo do Estado de um edifício no Sumaré e aos esforços do Estado português. Aproveito para dar testemunho público de reconhecimento ao Governo do Estado de S.Paulo.
Queridas amigas e amigos:
O espetáculo de hoje inscreve-se na programação do Experimenta Portugal ´18, chancela paulista, criada há 4 anos para servir de polo agregador das iniciativas e eventos que têm como objetivo promover a arte e a cultura portuguesa na capital económica e cultural do Brasil, através de lançamentos próprios ou em parceria com instituições públicas e privadas dos dois países.
Em 2015, Portugal foi o país homenageado da Virada Cultural, e encheu o parque Ibirapuera durante mais de três dias de eventos. Este ano, com o patrocínio de empresas portuguesas e brasileiras e o apoio do Ministério da Cultura, do Governo de Estado e da Prefeitura, o Experimenta oferece 3 meses de eventos, iniciados em maio com as comemorações do Dia da Língua Portuguesa.
Posso hoje alegar, sem exagero, que este circuito, concebido para ser mais um diálogo entre artistas e criadores dos dois países do que uma vitrina do que fazemos, já não pertence apenas ao Consulado Geral ou a Portugal: pertence à cidade e ao Estado de S.Paulo. É já seu filho adoptivo.
É um orgulho testemunhar não apenas o seu sucesso, mas a sua naturalização numa cidade que tem uma das mais competitivas agendas culturais do mundo. Razão mais que suficiente para aqui prestar reconhecimento público à pessoa que o ajudou a planear e viabilizar, o seu diretor executivo e produtor Bruno Assami. Muito obrigado.
Tão pouco esta proposta de gerar um movimento anual, no calendário da cidade, dedicado às correntes culturais teria sido possível sem que empresas e instituições importantes a tivessem igualmente compreendido e compartilhado.
Acredito aliás que não terá passado despercebido a muitos dentre vós que o Governo estadual, a ALESP e a Prefeitura se associaram este ano à comemoração do Dia de Portugal, iluminando vários monumentos e edifícios da cidade com as cores da bandeira nacional portuguesa. A estas instituições o meu agradecimento especial, em nome da comunidade luso-brasileira.
Minhas senhoras e meus senhores:
Um divertido escritor português, Miguel Esteves Cardoso, escreveu que “Tem-se sempre, caso se seja português, saudade de qualquer coisa (…) Portugal está feito para que se tenha saudades dele. Propositadamente. Cientificamente. Tudo foi minuciosamente estudado para nos chatear de morte quando estamos cá e nos matar de saudades quando cá não estamos.”
Eu, por mim, confesso, já estou com saudades de S.Paulo. Como muitos dos amigos, colegas e parceiros presentes esta noite saberão, esta deverá ser a minha última celebração, enquanto CG, do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Foram mais de 6 anos em funções, aqui vividos da única forma que eu e a minha mulher sabemos: entregando-nos, com dedicação e paixão, ao que fazemos. Representar Portugal em São Paulo é uma honra reservada a poucos. Fazê-lo, num período tão auspicioso e interessante das relações entre os dois países, foi um privilégio pelo qual permaneceremos gratos a vida inteira.
Aqui nasceu a minha filha. Aqui viveram os meus filhos a maior parte da sua vida até ao momento. Aqui fomos felizes. A minha noção de família radicará sempre na nossa passagem por São Paulo.
Além de termos sido acolhidos generosa e carinhosamente pela comunidade portuguesa e paulistana, fizemos amigas e amigos que esperamos e contamos conservar. Até porque, suspeito, os veremos com tanta ou maior frequência em Lisboa…
Prezados amigos:
Como dizia Einstein, o único lugar onde “sucesso” vem antes de “trabalho” é mesmo só no dicionário. Este trajeto profissional e pessoal tão gratificante não seria possível sem o contributo precioso de várias pessoas.
O meu primeiro e mais sentido agradecimento vai para a minha mulher Mafalda. Não só lhe estou grato por ter estado permanentemente ao meu lado, suportando com paciência estoica a minha conhecida hiperatividade, mas porque ela brilhou com luz própria em tudo o que fez em S.Paulo por Portugal. A ela muito devo. A ela provavelmente tudo devo.
Não posso deixar de agradecer aqui, de modo muito sincero, aos funcionários e colaboradores portugueses e brasileiros do Consulado Geral que, com brio e sentido de serviço público, me ajudaram, nos últimos anos, a costurar um programa ambicioso de modernização consular e de elevação do nosso patamar de atuação, fazendo muitas vezes parecer que tínhamos recursos infinitos, quando na realidade eram limitados.
Não podendo citar cada um, permito-me fazer aqui em nome de todos um mais do que merecido reconhecimento à minha assistente Viviane Miquelanti, a quem peço que aqui venha rapidamente…agradecendo a ela a disponibilidade incondicional, a lealdade, a bondade e sentido de compromisso. Obrigado, Vivi.
Agradeço, finalmente ainda, o apoio constante, amigo e sincero dos membros do meu Conselho Consultivo, que saúdo nas pessoas do atual e anterior Presidente do CCLB, Manuel Magno e António de Almeida e Silva, aos Senhores Comendadores e Dirigentes das Casas portuguesas, bem como à Câmara Portuguesa de Comércio e à Federação das Câmaras de Comércio portuguesas no Brasil, cujo dinamismo e vitalidade vi crescer ao longo dos últimos anos, sob a direção de grandes personalidades da nossa comunidade empresarial, com quem muito me honrou fazer este caminho em conjunto. Estarei para sempre reconhecido a todos.
Não posso terminar sem fazer aqui um prognóstico sobre a Copa… embora com alguma relutância, uma vez que há 4 anos o arrisquei – para meu posterior desalento. Para que não me acusem de ser novamente “pé frio”, limito-me a dizer que gostaria que a final fosse falada em português… se possível com uma vitória com sotaque de Coimbra.
Por fim, não tenho bola de cristal para adivinhar o futuro. Mas, diante de uma sala repleta de amigos, brasileiros, portugueses, luso-brasileiros, gostaria de dizer-vos que, há coisas em que me permito, sim, ter certezas. Uma delas é esta:
– a de que nem eu, nem o país que represento, nem a orgulhosa comunidade portuguesa cujo sentimento julgo interpretar fielmente, alguma vez teremos dúvidas sobre a nossa confiança no futuro deste “berço esplêndido” que é o Brasil, na grandeza, gentileza e hospitalidade dos brasileiros e na força de trabalho dos paulistas.
E se me fosse concedido, com a vossa permissão e clemência, um atrevimento final, eu pediria a vossa ajuda, nesta noite tão especial, para gravar uma mensagem final, pedindo emprestado um conhecido bordão televisivo:
“O Brasil que eu quero….porque quero muito ao Brasil….o Brasil que eu quero já está aqui nesta sala”. Muito obrigado
Viva Portugal! Viva o Brasil! Viva São Paulo!”