Falarmos de marcas ou de um rótulo específico requer muito cuidado para que não se cometa injustiças com os demais vinhos que são gerados na mesma região produtora. O orgulho dos produtores em dizer que fazem o melhor vinho de todos é extremamente natural e faz parte da cultura do vinho e de seu folclore. Quando uma marca ganha notoriedade entre seus próprios concorrentes, começa a ganhar terreno na sua terra natal e é apresentada como símbolo de qualidade, o assunto já passa a ser de relevada importância e a responsabilidade do produtor redobra, e dele será sempre cobrado, a cada ano, um vinho emblemático que justifique seu sucesso e sua história.
O primeiro vinho de Portugal a conseguir esse estrelado foi o mítico e até hoje respeitado Barca Velha, nascido nos confins do Douro e, mesmo agora, o mais disputado e caro vinho lusitano.
Desde o ano de 1996 outro vinho estava despontando como uma “vedete” no cenário vitivinícola de Portugal, em uma Região que cresceu em superioridade qualitativa que hoje o mundo todo reconhece a região do Alentejo. Falo do vinho Mouchão Tonel 3/4.
Este vinho é nascido de um vinhedo chamado Carapetos, este vinhedo tem uma área igual a dois campos de futebol e é cercado por imensos eucaliptos. Nesse vinhedo esta cultivada somente a casta Alicante Bouschet. A casta foi criada por Henry Bouschet a partir do cruzamento das castas Grenache com Petit Bouschet e tem sua origem em Montpellier no sul da França. Esta variedade é considerada no mundo da enologia como uma “uva tintureira”, ou seja, sua película da muita cor ao vinho, deixando-o com um grená muito forte. Seu segredo maior esta em seus aromas e paladar. Pujantemente vegetal, até com toques que lembram menta, canfora e eucalipto, passa ao provador uma sensação de frescor e juventude, mas é na boca , ou seja, no paladar final que tudo acontece, há uma explosão de finasse e elegância surpreendente, e um detalhe chama muito a atenção, o tempo só faz bem ao vinho, quanto mais velho, melhor!!
O produtor dessa joia é membro de uma Família inglesa que veio para Portugal em 1823 para se dedicar ao negócio da cortiça, a família Reynolds, que hoje esta na sexta geração, sempre foi muita aliga da Família Taylor’s tradicionais produtores de Vinho do Porto, dai acredita-se que ao imigrarem do Douro para a região do Alentejo, onde a cortiça é até hoje mais abundante, receberam um incentivo para elaborarem um vinho, nem que fosse para consumo próprio.
Até os dias de hoje o vinho Mouchão é elaborado com suas uvas esmagadas em lagares de pedra e seu envelhecimento e estagio em madeira é feito em barricas de 15 mil litros de carvalho francês.
O enólogo que o elabora é o carismático Paulo Laureano, um Mestre em Vinhos do Alentejo, que sempre, com muita paciência faz as vindimas sabendo da responsabilidade que tem em suas mãos. Devido ao grande sucesso deste vinho a uva Alicante Bouschet é hoje bastante cultivada no Alentejo e já é considerada uma casta típica dessa região, pois em seu país de origem a Alicante é quase uma ilustre desconhecida.
Assim, com o reconhecimento total entre os produtores de sua Terra Natal, o Mouchão ¾ tornou-se mais uma Pedra Preciosa a ser incrustada na Coroa dos grandes vinhos de Portugal.
Carlos Cabral