O BEM VIVER COM O VINHO DO PORTO

A iconografia nos rótulos do Vinho do Porto nos permite fazer uma análise histórica repleta de curiosidades que nos ajudam a compreender hábitos, usos e costumes de uma época.

No tocante aos rótulos que exploram os motivos religiosos, a presença de marcas com nome de Santos da Igreja Católica foi uma constante até o final dos anos de 1960. Permaneceu somente, com uma nova releitura em seus desenhos a imagem de Cristo no famoso Vinho do Porto Lágrima, que no passado chama-se Lácrima Christi, mas que foi substituído somente por Lágrima, por imposição de uma Lei que da, com todo direito, a reserva dessa marca á um vinho também doce, produzido nas encostas do vulcão Vesúvio em Nápoles, no Sul da Itália.

Chama a atenção como o hábito de tomar Vinho do Porto era bastante divulgado pelos prelados da Igreja Católica.

A famosa marca Rainha Santa, da Casa Rodrigues Pinho teve  outro cartaz promocional com a figura de um Cardeal admirando feliz um cálice de Vinho do Porto e uma frase solta abaixo diz; “Abençoado Vinho do Porto”. Afora esse cartaz,  outro mais solene revela uma sala palaciana onde uma suntuosa refeição é servida para um Cardeal, alguns Bispos e outros padres que na cena todos erguem um brinde ao cozinheiro que preparou o ágape. O texto é muito sugestivo: “Saudamos com um delicioso Rainha Santa o nosso excelente cozinheiro”!!!! Um rótulo especial para as vendas de Natal foi criado pela Casa A. Pinto dos Santos Jr., chama-se Boas Festas e uma pueril cena de um presépio é representada. A exploração do tema religioso era uma constante! Enquanto a Casa Ramos Pinto calcava suas promoções e divulgações em temas mais pagãos, explorando cenas da mitologia grega, as Vinícolas  produtoras desse néctar que tinham como foco o mercado interno abusavam das cenas e nomes religiosos, utilizando-se das imagens de anjos, Santos e personagens Bíblicos.

Chama muito a atenção um rótulo que correu o mundo e até hoje faz um sucesso enorme. Falo do His Eminence’s Choice (o Preferido de Suas Eminências) da Casa Delaforce.

Poderíamos fazer uma boa analogia desse rótulo com a celebrada peça teatral de autoria de Julio Dantas que estreou em Portugal no dia  24 de março de 1902, onde em um texto brilhante, todo escrito em versos alexandrino, três Cardeais, um francês, um espanhol e um português discorrem sobre o amor, em um finíssimo jantar em um aposento no Vaticano.

A beleza do texto se encerra com a constatação que o cardeal português, dentre os três foi o único que amou verdadeiramente!

Analisando o texto completo desta peça e discorrendo sobre o cenário, que o autor descreve antes do texto, temos a desagradável surpresa de saber que os três Cardeais estão degustando Champagne e um vinho de Jerez!!!

O Vinho do Porto há séculos já era admirado no Vaticano, e o personagem principal é um Cardeal de Portugal, o que levou Julio Dantas a colocar um Jerez na história, até hoje não sabemos.

Mas fiquemos com a espetacular arte e iconografia de muitos rótulos antigos de Vinho do Porto, onde a fé e os Santos muito ajudaram a vender esse maravilhoso vinho dos Deuses!

Carlos Cabral