Não há no mundo outro vinho com tanta história para contar! O vinho do Porto, pelo conjunto de suas virtudes e qualidades vem, há 4 séculos fazendo a alegria de quem o prova e recebe diariamente uma legião de admiradores, que se encantam com o seu passado, sua forma de se apresentar no presente e torcem para que seu futuro continue repleto de boas surpresas.
Produzido na Região do Douro, aquela que tem a mais bela paisagem vinícola, este emblemático vinho com muito orgulho e sobriedade representa com justiça a presença de Portugal no mundo.
Foi a partir da metade do Século XVII que este vinho como o conhecemos hoje entrou em cena. Primeiro foram os ingleses que se tornaram fanáticos consumidores, depois foi a vez do Brasil que como Colônia de Portugal tinha obrigação de consumir todo o excedente de sua produção. Os portugueses pouco saboreavam dessa iguaria, afinal o Vinho exportado pela cidade do Porto era uma das poucas riquezas que Portugal tinha uma moeda forte, assim toda a produção era voltada para a exportação.
A região do Douro, distante 100 km da Cidade do Porto, assistiu a uma grande revolução. Suas montanhas foram esculpidas com magníficos terraços de xisto e em cada um desses terraços foi cultivada a vinha.
Os comerciantes estabelecidos no Porto estimulavam o plantio de novas vinhas e cobrava por uma qualidade superior, a demanda passou a ser maior que a oferta e assim este vinho assistiu a sua primeira crise, com o fim de varias guerras na Europa, França e Espanha puderam retomar suas vendas de vinhos e o Porto foi ficando para um segundo plano.
Para recuperar o prestígio então abalado o Marques de Pombal, Primeiro Ministro do Rei Dom José I, cria em 10 de setembro de 1756 a Companhia Geral das Vinhas do Alto Douro, passando então o Estado Português a gerir todos os negócios com o Vinho do Porto. Se alguém quisesse exporta-lo tinha que comprar à Companhia, ou seja, a estatal do Vinho. Foi tão importante esse acontecimento que o Brasil recebeu três filiais dessa Companhia, em Recife, Salvador e a ultima no Rio de Janeiro. O Vinho do Porto era uma moeda forte!
O progresso instalou-se na região do Douro que assim passou a ser a primeira Região Demarcada de Vinhos do Mundo, com um Diploma Legal de 53 artigos na sua constituição, sendo que 19 diziam exclusivamente respeito ao mercado brasileiro. Foi em 1704 que o primeiro vinho do mundo a ser engarrafado que se tem notícia, foi um Porto, e outra primazia desse vinho foi em 1863, quando surge a primeira marca fantasia para um vinho, Quinta do Vesúvio, da tradicional Família Ferreira.
Nos idos de 1907 havia nos registros da Alfândega do Porto mais de 700 empresas exportadoras de Vinho do Porto registradas, todas atuantes e cada uma apresentava um enorme portfólio de tipos e qualidades superiores desse vinho. Por causa do volume de empresas e de marcas que as mesmas possuíam, até hoje é notável e única no mundo a coleção de rótulos existentes que surgiram, cada exemplar refletia bem os movimentos artísticos de uma época, expressando com muita arte o momento do nascimento de cada vinho. Calcula-se que existam mais de 20 mil rótulos distintos desse vinho.
Conhecido como um potente fármaco até os idos de 1940, o Vinho do Porto foi fazendo história nas vidas das famílias pelo mundo, do avô aos netos, todos consumiam uma pequena dose diária como preventivo para todos os males!
Vinho rico em cor, aroma e sabor, o Porto é como um filho que pode ser educado por quem o cria. Diversos são os estilos desse vinho e cada um desses estilos tem um público cativo que o aprecia.
O mais desejado de todos é o Vintage, que nada mais é que uma seleção natural apertada de qualidade, somente 2% de toda a produção de um ano é considerada Vintage. Vinho múltiplo pode ser consumido jovem, que apresentará uma explosão de sabores a frutas vermelhas maduras, ou pode-se deixar por dezenas e dezenas de anos a envelhecer na garrafa, que suas qualidades serão mantidas.
O tipo LBV (Late Botle Vintage) reúne uma explosão de cor e sabor a frutas, é um vinho ideal para acompanhar uma gama enorme de queijos e sobremesas robustas. Por Lei, este tipo de Porto só vem ao mercado após 7 anos de sua colheita.
Os Vinhos do Porto com Denominação de Idade 10, 20, 30, ou 40 anos, demonstram um trabalho da natureza aliados a sabedoria do homem em preservar esses vinhos que, ao oxidarem ganham cores inebriantes e aromas que vão dos frutos secos a baunilha. Grandes companheiros dos tradicionais doces portugueses a base de ovos.
Os Porto Colheita chamado também de Porto de Aniversário, é deixado pelo homem a fazer sua vida em pipas de 550 litros por tempo indeterminado e ao ser engarrafado, recebe a chancela do ano que foi produzido, assim podemos celebrar uma data importante de nossa vida com uma garrafa de uma data que nos é cara!
Por fim a linha de Portos comuns ou tradicionais, White, Tawny ou Ruby, são vinhos jovens com no máximo 6 anos, mas que podem resistir ao tempo que quisermos, porque a máxima: “Quanto mais velho, melhor” é totalmente válida na vida do Vinho do Porto!
Visitar a cidade do Porto atravessando a Ponte Dom Luis, chegando a Vila Nova de Gaia e entrar nas dezenas de Armazéns das Casas produtoras desse néctar é uma experiência única, porque lá encontramos a cordialidade do povo português e a doçura do Vinho do Porto, tudo o que aprendemos a amar, admirar e respeitar!
Carlos Cabral
Artigo originalmente publicado na Revista QTravel.